abaixei-me<
tree | e apanhei uma pedra, mais ou menos da grossura deste copo.
|
tree | "Deixa-me cá apanhar uma pedra.
|
tree | Se vir alguma coisa, sempre lhe avento".
|
tree | [pausa] Eu sou muito foito,
|
tree | mas ali apanhei um bocadinho susto.
|
tree | Eu a acabar de dizer aquilo
|
tree | e eu ia a passar à frente duma parede com dois metros de alto, ou metro e meio.
|
tree | Havia uma paredezita num pinhal onde faziam esses tais alqueves.
|
tree | [pausa] E havia uma parede [pausa] ao lado do caminho, que essa parede fizeram-na para o para fazer o caminho, que ia o caminho para a para as centrais, que era o caminho velho antigo.
|
tree | [pausa] "Aqui há muita bicharada,
|
tree | cá apanhar esta pedra;
|
tree | se aparecer alguma coisa [pausa] hei-de-lhe aventar com ela".
|
tree | Eu a acabar de dizer aquilo, uma cobra.
|
tree | Aquilo lá vinha picada com outro bicho…
|
tree | [pausa] Que as gajas quando estão enervadas fazem uma rodilha, enroladas.
|
tree | Aquilo lá vinha [vocalização] picada com outro bicho de andarem à bulha…
|
tree | Eu a acabar de dizer aquilo,
|
tree | e aquela grande cobra ia-se-me enfiando na cabeça.
|
tree | Eu disse:
|
tree | "Ena pá"!
|
tree | [pausa] Por pouco é que não se me enfiou aqui na cabeça.
|
tree | |
tree | INF1 Caiu da parede para baixo, no chão.
|
tree | E onde ela caiu era um bocadinho do caminho largo e assente, assim um bocadinho direito, um bocado de areia, e tal.
|
tree | A gaja caiu assim ali.
|
tree | Eu sou um bocadinho foito
|
tree | mas arreceei.
|
tree | Arrecuei um bocadinho atrás.
|
tree | Mas ao mesmo tempo que eu arrecuei um bocadinho, e a gaja ficou assim à minha frente enrodilhada
|
tree | e começou-se a desenrodilhar para ir para a parte de baixo do caminho, para o meio das pedras.
|
tree | Quando a gaja se começou a desenrodilhar, eu assim à toa, com a pedra que levava na mão – assim à toa! – aventei-lhe com ela.
|
tree | Então eu não lhe calhei a dar atrás da cabeça, aí dois palmos?!
|
tree | logo a espinha.
|
tree | [pausa] Aventei à toa!
|
tree | |
tree | |
tree | INF1 Calhei-lhe logo a dar atrás da cabeça aí dois palmos.
|
tree | Ah, mas aquilo era um balúrdio!
|
tree | [pausa] Quando lhe dei com a pedra, aquilo parti-lhe a espinha,
|
tree | a gaja dali não abalou.
|
tree | Tombo daqui, tombo dalém, tombo daqui, tombo dalém,
|
tree | e já dali não abalou.
|
tree | E a gaja a acenar para mim:
|
tree | "Vhe-vhe-vhe".
|
tree | Eu cheguei-me atrás
|
tree | mas já não abalou donde estava,
|
tree | tombos,
|
tree | mas já não abalou donde estava.
|
tree | |
tree | INF1 E depois peguei noutra pedra maior…
|
tree | INF2 E ela era grossa!
|
tree | INF1 Ai!
|
tree | Peguei noutra pedra maior
|
tree | [pausa] e aproximei-me um bocadinho,
|
tree | a avantar a aventar,
|
tree | a dar na cabeça,
|
tree | já a amuganhei mais.
|
tree | Já afrouxou mais.
|
tree | Mas mesmo assim:
|
tree | "Vhe-vhe-vhe"!
|
tree | Foi assim cá de longe.
|
tree | INF2 Ai, se lhe pudesse chegar!
|
tree | INF1 Até que a gaja afrouxou.
|
tree | Depois de já estar assim um bocado frouxa, vou então com o bico da roçadoura, como aí têm no livro,
|
tree | vou então com o bico da roçadoura
|
tree | e dei-lhe assim na cabeça,
|
tree | de esmagar.
|
tree | [pausa] Tombo daqui – mesmo com a cabeça esmagada –, tombo daqui, tombo dalém,
|
tree | [vocalização] mas dali já não abalou.
|
tree | Ah, mas aquilo era um balúrdio enorme!
|
tree | [pausa] Vê que a corda tem uma casola.
|
tree | Nunca viu?
|
tree | Não sabe como é?
|
tree | |
tree | INF1 Tem uma casola para a gente apertar o molho.
|
tree | |
tree | INF1 Uma coisa em madeira, que faz a curva.
|
tree | |
tree | INF1 A minha casola tinha…
|
tree | fazer, tinha um arame destes arames da luz,
|
tree | Como tinha ali umas três ou quatro voltas de arame, [pausa] não tinha ali nada que [vocalização] com que enfiar na cabeça à cobra,
|
tree | tirei um bocadinho do arame da casola da corda,
|
tree | ali duas voltas ou três,
|
tree | e fiz um gancho.
|
tree | Fiz um gancho
|
tree | e enfiei-o na cabeça da cobra
|
tree | e dependurei-a num pinheiro.
|
tree | [pausa] E fui arranjar o molho
|
tree | e depois quando passei para baixo trouxe-a, que era para a verem aqui no povo.
|
tree | [pausa] Ela era tão pequena [pausa] que eu trazia assim o molho às costas
|
tree | e ao gancho, enfiei-o assim aqui no molho do mato, num pau,
|
tree | aqui,
|
tree | [pausa] e a gaja vinha estendida lá para trás.
|
tree | Ela tinha mais de dois metros!
|
tree | |
tree | INF2 Era.
|
tree | |
tree | INF1 E uma grossura enorme!
|
tree | [pausa] E depois passei aqui no povo:
|
tree | "Olha o Dimas!
|
tree | Olha que cobra ali leva"!
|
tree | "Olha assim,
|
tree | olha assado"!
|
tree | Tudo a admirar,
|
tree | [vocalização] lá a trouxe.
|
tree | [pausa] Uma madrinha minha que morava na casa que hoje é da Dília, além naquela casa – mas era a casa mais baixinha – , essa madrinha minha comia-as.
|
tree | [pausa] Quando lhe davam alguma, cortava-lhe um bocado, dois palmos da cabeça [pausa] e dois palmos do rabo.
|
tree | E a outra parte, depois tirava-lhe a pele,
|
tree | depois cortava-a aos bocados
|
tree | e cozia-a.
|
tree | É exactamente o cheiro de [vocalização] do frango.
|
tree | É exactamente o cheiro do frango e o sabor.
|
tree | INF2 Eu não era capaz de comer!
|
tree | [pausa] Este comeu.
|
tree | |
tree | INF1 Tirou-lhe então a pele toda…
|
tree | |
tree | INF1 Desenfiou-lhe aquele bocado da…
|
tree | INF4 A senhora também comia?
|
tree | |
tree | INF2 Mas sabendo não comia.
|
tree | INF1 O cheiro é exactamente…
|
tree | |
tree | INF1 O cheiro é exactamente igual.
|
tree | Eu não foi por fome,
|
tree | nem foi por nada.
|
tree | [pausa] Vi-a…
|
tree | |
tree | INF1 Vi-a comer a ela:
|
tree | "Também quero experimentar"!
|
tree | É exactamente o frango, a água do frango, a canja.
|
tree | |
tree | INF1 Comi uma malguinha de canja,
|
tree | bebi uma malguinha de canja,
|
tree | e depois comi um bocado da carne.
|
tree | |
tree | INF1 Ai, fez agora!
|