tree | INF1 E já E usava-se xale de ponta pela cabeça!
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tree | [pausa] Uns xales de ponta!
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tree | Os xales, a gente fazia uma ponta grande, para ir para trás,
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tree | INF1 e botava aquilo pela cabeça quando era nos anojados;
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tree | e anojados, se muito anojados;
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tree | só aparecia os olhos.
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tree | INF2 E às vezes um cachené ainda por riba.
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tree | INF1 Hã?
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tree | INF2 E às vezes ainda um cachené por riba.
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tree | INF1 Sim.
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tree | [pausa] Mas agora já não se usa isso.
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tree | INF1 Já é lencinhos na cabeça até no dia dos anojados,
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tree | é lencinhos na cabeça
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tree | e passe por lá muito bem.
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tree | Coitado de quem morre, se ao céu não vai!
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tree | Aquilo não traz ninguém para cá,
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tree | mas é um respeito!
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tree | INF1 É um respeito que há às suas famílias.
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tree | Eu cá um irmão meu morreu, [pausa] o primeiro,
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tree | usámos nove meses [pausa] xales e cachenés;
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tree | e ao cabo dos nove meses, fomos de lenço à missa.
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tree | Mas era xales e um lenço negro na cabeça!
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tree | E ao cabo de um ano é que tirámos então essa aquelas roupas e…
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tree | E uns E também irmãos do meu homem têm morrido
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tree | e eu uso da mesma maneira.
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tree | INF1 Já não se usa então é xale de ponta!
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tree | Isso então já não se usa!
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tree | Mas visto um casaco
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tree | e boto um lenço preto na cabeça
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tree | e os primeiros e vou nos anojados é com um cachené [pausa] pela cabeça…
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tree | É deste feitio.
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tree | Mas é esta gente mais antiga!
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tree | Aqueles que são agora não querem, então!
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tree | INF1 Olhe, e fazem bem.
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tree | Que a gente com aqueles cachenés, a gente apanha frio, quando chega a casa que os tira, apanha frio,
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tree | e então anda sempre constipadas.
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tree | INF1 Mas é a modo um respeito que a gente tem às nossas famílias.
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tree | INF1 Eles não vêm para cá,
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tree | por a gente usar preto daquela maneira, eles não vêm para cá,
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tree | mas é aquele respeito que a gente tem às nossas famílias.
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tree | Sequer um ano, que não é uma coisa que não se ande.
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tree | INF2 Ai ele!
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tree | INF1 Um ano de preto pelas suas famílias, ah senhora, credo!
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tree | Mas há muita gente já que não quer.
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tree | [pausa] Já estão como os americanos: [pausa] "Ele morreu,
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tree | morreu.
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tree | Olha, está por a conta dos mortos.
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tree | Morreu,
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tree | "!
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tree | Mas lá também [vocalização] é assim, não é?
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tree | INF1 Também usa-se preto lá?
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tree | INF1 Ah!
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tree | Lá também.
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tree | Vês que se usa!
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tree | INF1 É.
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tree | E na Ribeirinha usavam dois anos, não é?
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tree | INF2 É.
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tree | INF1 A gente cá aqui usava só um ano.
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tree | [pausa] E os da Ribeirinha usavam dois anos, preto!
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tree | INF2 Mas é que ainda no tempo que eu era rapaz, a gente usava [vocalização] camisa preta – já se sabe –, chapéu preto com um fumo de roda…
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tree | INF1 Com uns fumos pretos!
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tree | E as barbas por fazer!
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tree | INF2 E num mês não se metia navalhas…
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tree | INF1 Não se metia navalha na cara.
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tree | INF2 Hoje é mechinos,
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tree | mas naquele tempo era navalhas.
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tree | Na Era [pausa] barbados, [pausa] para aquele tempo.
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tree | E a gola do da jaqueta virada para cima.
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tree | Agora eles, morre um irmão,
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tree | quando é no outro dia, eles estão só em camisa e todos esgargalados para fora e arregaçados…
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tree | INF1 E vestem a roupa porque é é um vestir.
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tree | INF2 Vai ver
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tree | INF1 Ainda no outro dia vi uma rapariga nova de xale de ponta pela cabeça, na Praia.
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tree | Não sei se era viúva, se que é.
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tree | Para mim, ela era daquela banda da Ribeirinha.
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tree | De xale de ponta pela cabeça!
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tree | INF1 Que então, coitadinha, [pausa] já custa a segurar.
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tree | INF1 Não já?
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tree | Mas ela ia de xale de ponta pela cabeça.
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