tree | INF1 Os bailaricos folclóricos, [pausa] nós também os temos cá.
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tree | E isso é tradição do continente.
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tree | Embora a gente saiba que é do continente, pois a gente – não é? –, a gente é a nossa tradição.
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tree | Já não é o mesmo bailarico que é lá feito,
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tree | INF1 mas é idêntico.
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tree | INF2 É.
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tree | INF1 Portanto, herdámos de lá.
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tree | INF1 Mas depois foi adaptado [vocalização] ao meio açoreano.
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tree | [pausa] Isto não é tentar diferenciar uns dos outros.
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tree | O que eu estou a dizer é que…
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tree | INF1 Entre [vocalização] É que o [vocalização] açoreano [vocalização] realmente é um povo pacato.
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tree | Gosta de estar muito entre si.
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tree | É, é.
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tree | Gosta de ficar na casca.
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tree | São coisas…
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tree | INF1 [vocalização] Antes do terço, é, o bailarico.
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tree | INF2 Antes do terço.
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tree | INF1 Mesmo agora há muito.
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tree | INF2 [vocalização] Agora, agora é muito diferente daquilo que a gente…
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tree | INF1 É,
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tree | ele é.
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tree | Eu costumava ver.
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tree | INF2 Nesse, nesse Nesse ponto, nesse aspecto, então, está-se morrendo a tradição.
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tree | INF1 [vocalização] E morre.
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tree | INF2 [vocalização] Em que [vocalização] havia aquele género de baile que a gente chama cá o baile à antiga, que é um baile folclórico, mas sem preparação de ninguém, sem ensaios.
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tree | INF1 Chegava ali…
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tree | INF2 Porque nos grupos folclóricos, ensaiam-se;
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tree | eles não.
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tree | Ele chegava-se aqui
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tree | e deitava-se a mão a quatro rapazes, quatro raparigas, ou oito raparigas, senão oito rapazes,
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tree | não interessava,
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tree | faziam aquela rodazita,
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tree | iam andando,
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tree | depois começava lá um,
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tree | mandava:
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tree | desmancha,
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tree | ou ele quebra o baile,
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tree | vira para aqui,
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tree | vai para a direita,
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tree | e não sei quantos;
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tree | depois um cantava,
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tree | depois o outro cantava,
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tree | depois faziam coro, não é?
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tree | INF1 Pois is- Isso está…
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tree | INF2 Isso praticamente está acabado.
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tree | Isso está acabado porque [vocalização] a juventude está toda dedicada a discos, gravações, cassetes [vocalização]…
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tree | INF1 Não.
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tree | Graças Graças à música pop.
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tree | INF2 É música moderna.
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tree | INF1 Sim, é graças à música pop.
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tree | Está tudo a virar para a música pop.
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tree | A música pop, pois, isso é bom é para eles.
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tree | INF2 Faz barulho.
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tree | INF1 Lá nada, homem!
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tree | Lá para Moçambique, Angola, para esses lados, os gajos não fazem outra coisa:
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tree | batucam, não é?
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tree | Mas é,
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tree | no entanto, é, infelizmente…
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tree | Infelizmente para nós, a tradição nesse caso está morrendo.
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tree | INF2 Está morrendo.
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tree | Há muito pouquinho, muito pouquinho!
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tree | INF1 E morre!
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tree | E vai mesmo.
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tree | INF2 Ainda Ainda se vê ele é fazer as umas rodazitas, muito pouco…
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tree | INF1 Os cantadores aguentam-se<
tree | mas isto isto mais dia, menos dia, talvez daqui a dois, três anos já não há.
| tree | INF2 Bem, os cantadores aguentam-se<
tree | mas a gente não pode garantir que se aguentem.
| tree | INF1 Nunca mais é o mesmo.
| tree | INF2 [vocalização] Vamos lá.
| tree | [vocalização] Ora, ontem as provas foram dadas aqui
| tree | e é uma coisa que pode ser bem analisada através da gravação, em que nós os mais novos tentámos fazer o nosso possível, enquanto os outros, com a maior facilidade, com a maior naturalidade, fizeram o que quiseram e restou-lhe tempo para fazer mais ainda.
| tree | Portanto, além da grande prática que têm, têm um dom muito especial mesmo.
| tree | INF1 Ora, aquilo nasce com a pessoa!
| tree | INF2 Provavelmente os cantadores se vão manter.
| tree | Eu não digo que não.
| tree | Mas esses cantadores vão-se manter já mais [vocalização] a morrer mais um, um…
| tree | Quer dizer, nunca mais tivemos um [pausa] Luís de Camões,
| tree | [pausa] nunca mais tivemos um Guerra Junqueiro, [pausa] não é isso?
| tree | [pausa] Nunca mais tivemos um Bocage.
| tree | Vamos tendo,
| tree | vamos tendo uns certos poetas por aí abaixo,
| tree | aparecem muitos,
| tree | mas esses são simples Régios.
| tree | [pausa] Assim sucede com o improviso.
| tree | INF1 Eh, não!
| tree | Vão mudando vão…
| tree | Aí, aí tem que meter uma coisa:
| tree | menciona o Vitorino Nemésio, não é?
| tree | INF2 O Vitorino Nemésio?…
| tree | INF1 Ah, não?!
| tree | O Vitorino Nemésio!
| tree | ,
| tree | lá.
| tree | INF2 Sim senhor.
| tree | Sim senhor.
| tree | INF1 Está lá, na nossa época.
| tree | INF2 E menciona o Antero de Quental!
| tree | INF1 Não, não.
| tree | nossa época…
| tree | Não.
| tree | INF2 E então agora vou pondo,
| tree | vamos mencionar por aí abaixo os nomes de todos os poetas.
| tree | INF1 Não, não.
| tree | nossa época, tu vais-me mencionar o Vitorino Nemésio.
| tree | Ele é do nosso tempo.
| tree | Ah [vocalização], o Antero de Quental já não!…
| tree | INF2 Eu também te posso mencionar até o Álamo de Oliveira que estava em [nome próprio].
| tree | INF1 Ah, isso! …
| tree | Es– Esse já é outra coisa.
| tree | Esse já é outra coisa.
| tree | INF2 Eu posso-te di-, eu posso dizer Eu posso-te mencionar o [vocalização] Reverendo Coelho de Sousa, que é poeta completo, sem dúvidas.
| tree | INF1 Esse é um poeta completo.
| tree | INF2 Se for um gajo a isso, eu tenho tantos para te nomear.
| tree | INF1 Isso é um poeta completo.
| tree | INF2 Não, mas o que eu quis-te fazer foi uma imitação do que vai ser o improviso.
| tree | [pausa] Vai descendo,
| tree | vai descendo…
| tree | | tree | INF2 É o Ferreirinha filho.
| tree | É o Ferreirinha filho que nunca é o que foi o Ferreirinha pai.
| tree | [pausa] É a tal coisa [pausa] das tais tradições.
| tree | INF3 Pois.
| tree | Por acaso até que o conhecia, já do tempo do Trulu também e do Charrua…
| tree | | tree | INF2 Bem, esses então!…
| tree | [pausa] Esses não se fala neles!
| tree | Isso é de um centenário só.
| tree | Faleceram aqueles, pronto.
| tree | INF1 Esses, isso é Em cantar, em cantar, pois, nem lhe nem comparo ao Camões.
| tree | A cantar!
| tree | Mesmo o Camões foi um poeta à sua m-…
| tree | Actuou à sua maneira.
| tree | Nem conheceu a outra maneira.
| tree | INF2 Repare você, a poesia Aí há uma explicação que se pode dar:
| tree | a poesia é mais fácil de escrever um poema do que fazer uma cantiga.
| tree | INF1 Uma cantiga!
| tree | INF2 Porque o senhor está a c- Vamos lá a ver, estamos aqui a cantar os dois,
| tree | aquele vai-me falar naquela guerra,
| tree | vamos dizer que eu não sei que ele vai falar naquela guerra ,
| tree | e eu tenho que responder,
| tree | tenho que procurar responder dentro do assunto que ele me pergunta.
| tree | Ora, enquanto nós se escrevemos poesia, eu hoje escrevo aqui uma frase, por aqui abaixo: "Este quadro é"…
| tree | Um quadro.
| tree | E penso,
| tree | penso,
| tree | penso,
| tree | mas não arranjei;
| tree | fica para amanhã!
| tree | E amanhã levanto-me,
| tree | vou lá e ra-ra, ra-ra!,
| tree | e vou pensando até que escrevo esse poema.
| tree | improviso não pode suceder isso.
| tree | Assim que o outro acabar, eu tenho que responder.
| tree | INF1 Obrigado!
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