tree | INF Não havia veterinários,
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tree | havia alveitares.
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tree | Aqui na região havia havia alveitares.
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tree | Houve aqui na região um homem chamado Décio das ovelhas,
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tree | conhecia o gado pelo bigode aos veterinários.
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tree | E [vocalização] E os veterinários [pausa] convidaram-no – um homem que não sabia ler nem escrever – para ir reger uma cadeira na Escola Veterinária.
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tree | E davam-lhe dez escudos cada dia
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tree | e o gajo não quis.
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tree | E queriam que ele fizesse um livro.
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tree | Eu tenho um livro que foi escrito – chama-se "O Tesouro do Lavrador" – que foi escrito há duzentos e vinte anos.
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tree | Ainda os veterinários não sabem o que eles sabem.
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tree | Porque o veterinário hoje o veterinário hoje, a ciência dele é conhecer a doença do animal.
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tree | O animal conhece-o.
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tree | Por exemplo, se tem uma dor, vai com a cabeça assim aonde…
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tree | A gente, como eu, que convivia com os animais, conheço as doenças.
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tree | Porque aqui na região a doença que ataca mais o animal é a carbunculosa com diferentes sintomas.
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tree | [pausa] Ele vão O gado vacum, há quarenta e cinco moléstias que vão à carbunculosa com diferentes sintomas.
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tree | A veterinária hoje está mais evoluída do que nunca esteve.
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tree | Está cienti- O veterinário, dês que saiba que conheça a moléstia, aplica-lhe uma injecção,
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tree | cura o animal.
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tree | [pausa] Tem avançado muito.
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tree | Mas esse tal esse tal v- Décio das ovelhas – contava-me o meu pai, que ele não era cá do meu tempo –
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tree | chegou a Montargil ver uma junta de bois,
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tree | [pausa] disse que: "Aquele que está sadio, que não tem doença, morre; e este que está doente escapa.
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tree | [pausa] E este que está sadio, quando for uma hora da noite, à meia-noite, dá o berro
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tree | e cai para o lado
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tree | e morre".
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tree | [pausa] Era um cientista!
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tree | O gajo nunca quis deixar –
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tree | era aqui da Lamarosa.
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tree | Era cá do concelho de Coruche.
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tree | Era um gajo cientista,
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tree | chamava…
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tree | Neste tempo não fazia De Verão não fazia mais nada que era a andar a cavalo num cavalo, [vocalização] a este e àquele;
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tree | todos os dias, todos os dias iam-no chamar.
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tree | Ia para o Ribatejo.
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tree | O gajo em Salvaterra, andavam os veterinários a dar a injecção,
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tree | já lá andavam há oito dias;
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tree | e o gajo com um pontapé – que ele o que é que foi? – foi apalpar o boi –
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tree | ele apalpava o animal –
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tree | foi apalpar o boi
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tree | e achou-lhe um marmelo na [vocalização] atravessado nas goelas.
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tree | Mas agora o animal respirava.
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tree | Ele recua para trás,
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tree | endireitar,
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tree | deu um pontapé no marmelo,
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tree | o marmelo foi…
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tree | "Oh!
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tree | [pausa] Está curado"!
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tree | E na presença de dois veterinários, ficaram a olhar para ele.
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tree | Foi daí é que ele teve grande fama…
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tree | Esses veterinários convidaram-no [pausa] para a Escola Veterinária,
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tree | falaram com o professor, para o gajo ter lá uma cadeira e fazer um livro.
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tree | E o gajo não quis.
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tree | Foi, foi um grande Foi um grande paspalhão!
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tree | Deixava o nome dele escrito para toda a vida.
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tree | E ficava escrito como veterinário.
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tree | Porque os veterinários precisam de saber os sintomas que os animais…
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tree | Então eu quando tinha lavoura chamava!
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tree | Uma vez adoeceu-me uma ali
tree | e eu digo-lhe,
| tree | chamei o veterinário.
| tree | O veterinário disse: "Morre duas vezes"!
| tree | Ele abalou,
| tree | eu fui buscar o meu alfarrábio
| tree | e comecei a estudar: "A doença é esta,
| tree | os sintomas, é esta,
| tree | é este".
| tree | na bicicleta,
| tree | vim aqui ao Couço,
| tree | comprei sete quilos de farinha [pausa] de trigo
| tree | e comprei quarenta onças de raspa de veado.
| tree | [pausa] Aqui o farmacêutico, o ajudante de farmácia, não sabia o que era uma onça.
| tree | Digo eu para ele: "Então tu não sabes o que é uma onça?
| tree | O teu patrão tinha um [nome] antigo".
| tree | "Mas você sabe quanto é uma onça"?
| tree | "Sei, sim senhor.
| tree | Uma onça são vinte e cinco gramas.
| tree | Fazes quarenta papelinhos".
| tree | Dava dois papelinhos dissolvido em meio quilo de farinha, grosso, pela boca abaixo ao animal.
| tree | Quando foi ao fim de três tratamentos, o animal, as tripas, a raspa de veado fez sarar.
| tree | Porque a febre podre é umas feridas nos intestinos que os animais têm como nós temos também.
| tree | [pausa] E a raspa de veado fez sarar.
| tree | [pausa] Matou o micróbio.
| tree | [pausa] Os antigos sabiam muita coisa!
| tree | [pausa] Muita coisa!
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