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tree | INF1 É.
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tree | INF2 Eu já nem me lembra.
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tree | Risos A minha filha foi muito bem.
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tree | A minha filha, isso devia-me eu queixar, foi devagar.
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tree | Eu já tinha trinta e seis anos quando a minha filha nasceu.
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tree | Mas eu ainda, ali à tardinha ao pôr-do-sol, ainda fui para casa da minha tia fazer uns biscoitos.
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tree | tempo não se usava pão como se usa hoje.
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tree | E é que isso eu estava com o ouvido à escuta de ser [vocalização] em poucas horas.
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tree | Disse: "Eu vou é fazer um quilo ou dois de biscoitos, porque sendo preciso, alguma pessoa que esteja mais eu, sendo preciso, com um pingo de café, já me arremedeio.
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tree | Não quero ir sair para as casas de ninguém pedir um bocado de pão".
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tree | E assim foi.
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tree | ali ao pôr-do-sol,
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tree | eu fui para casa de minha tia
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tree | e fiz uma coisinha de biscoitos.
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tree | E depois vim para casa…
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tree | Mas já estava a [vocalização] queixar-se, somenas.
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tree | Pegava num braçadinho de lenha,
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tree | chegava aqui ao caminho – que ainda nessa altura não tinha forno –,
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tree | parava um instantinho,
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tree | parava mais adiante,
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tree | parava outro instantinho,
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tree | e fui andando assim
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tree | e fiz os meus biscoitos.
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tree | Depois vim para casa,
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tree | mas depois então rebentou-me a bexiga de água.
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tree | E depois eu estive-me lavando,
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tree | peguei numa toalha turca, branca, que tinha,
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tree | <
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tree | e pus em mim,
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tree | e ainda fui para casa de minha tia, eu mais o meu marido, moer uma fornada de milho.
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tree | Mas depois vim para casa.
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tree | Já quando vim para casa, ainda tive o ferro aceso para passar um guardanapo e um lenço da mão;
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tree | era a mania de não querer ter nada por passar de ferro.
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tree | Mas então já o lenço da mão, ia quatro e cinco vezes, para bem de o passar.
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tree | O meu marido disse que ia chamar minha mãe.
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tree | Digo: "Não se vai chamar ninguém.
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tree | Que eu quero impar sequer aqui à minha vontade"!
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tree | E foi me- foi mesmo assim.
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tree | Diz ele: "Ah, mas eu não estou aqui sozinho, eu mais tu, porque não compreendo nada disso".
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tree | E ele, coitado Mas eu não me queria deitar,
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tree | queria estar era sempre em pé, cá à minha vontade.
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tree | Diz ele: "Não, mas vais-te deitar
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tree | e eu vou a casa de tua mãe".
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tree | Lá eu me deitei
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tree | e ele foi lá.
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tree | Era meia-noite e dez minutos quando minha mãe chegou aqui.
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tree | E era uma hora e dez,
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tree | eu já estava na cama com a minha filha.
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tree | Mas foi então:
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tree | ela foi aqui chamar uma vizinha, para estar com ela – porque ela tinha medo, como eu já tinha mais uma idadezinha –,
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tree | e depois, mas, foi quando ela chegou, foi logo, em coisa de uma hora.
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tree | E elas depois obrigaram-me a pôr de joelhos.
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tree | Digo: "Ah, não!
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tree | Vocês!
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tree | Eu quero estar é em pé,
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tree | quero ir para o céu"!
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tree | "Então estandes em pé e a pequena nascendo, ela morre-te"!
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tree | Eu era mesmo estropelinas!
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tree | Olha, lá me obrigaram a pôr de joelhos,
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tree | e eu fui: "Olha, é agora"!
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tree | Foi como um peixinho-rei,
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tree | foi um instante!
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tree | altura, era sempre à moda antiga!
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tree | Diziam elas: "Ó Graciano vai à cozinha buscar uma garrafa que é para ela assoprar no gargalo duma garrafa".
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tree | Ele era.
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tree | Olhe, ele tão depressa deu a volta,
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tree | deu dois passos,
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tree | [vocalização] veio veio o parto.
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tree | Foi assim tudo em segundos.
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tree | Fiquei desembaraçada.
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tree | De maneira, eu que pedi?
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tree | "Olhem, vocês"…
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tree | Tinha então as minhas coisinhas todas arranjadinhas, a roupinha da miúda, e mesmo roupa para mim.
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tree | o meu bocado de pano de turco: "Olhem, vocês ensaboem-me este paninho".
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tree | ,
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tree | <
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tree | e fui mesmo por os meus pés para a cama.
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tree | Fui então muito feliz!
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tree | Porque já tinha uma mancheia de anos,
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tree | e foi indo só assim.
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tree | Que foi mesmo em casa, não precisei…
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tree | Já havia hospital!
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tree | Mas eu não queria ir para o hospital.
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tree | Foi então mesmo em casa.
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tree | E depois elas então minha mãe então é que cuidou disso:
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tree | é que corta o umbiguinho à miúda, e é que lhe deu o seu banhozinho geral.
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tree | E então, naquele tempo, também usava-se as suas cintazinhas de flanela, com quatro arreatazinhas, que se amarrava.
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tree | Mas elas punham então um bocadinho de unto sem sal e uma coisinha de tabaco.
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tree | INF2 Uma coisinha de unto sem sal e uma coisinha de tabaco.
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tree | INF2 Deste tabaco que se cheira, deste fininho.
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tree | INF2 No umbigo.
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tree | E depois, dali, lavavam a pequenina
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tree | e depois tornavam a pôr aquilo.
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tree | Acabante cinco, seis diazinhos, cai aquilo tudo fora
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tree | e fica o umbigo saradinho.
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tree | E lá vestiram-na.
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tree | Depois a minha mãe dizia assim: "Olha, toma cuidado!
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tree | Tu não dês em dormir!
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tree | Porque isto às vezes dão em dormir,
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tree | mas isto depois deitam umas cordazinhas amarelas ou coisas por a boca, que depois elas às vezes sufocam"!
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tree | Ai, eu levei tanto tempo, eu tola, com sono
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tree | e não queria dormir, porque estava sempre lembrando que ela que podia não esquecer-se de tomar fôlego.
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tree | Foi Foi uma aflição.
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tree | Foi uma aflição.
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tree | Mas à conta de Deus está aqui, coitadinha,
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tree | já é uma amiguinha duma pessoa.
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tree | INF2 Ai, eu punha-lhe sempre as minhas fraldinhas.
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tree | Mas, sempre precisei de trabalhar, que eu sou uma pessoa que saio muito,
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tree | paro pouco tempo em casa.
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tree | Tem que se ga- A pessoa é pobre,
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tree | tem que se ganhar a vida!
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tree | Mas nunca saí…
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tree | Olha, levava levava o bercinho para casa de minha mãe,
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tree | uma tabuinha por baixo do berço,
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tree | pedia a qualquer pessoa que passava pelo caminho para me ajudar.
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tree | Mas não deixava de não lhe dar o seu banhozinho de manhã – só [vocalização] adoçar o cuzinho –, pôr-lhe a sua fraldinha,
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tree | e usava as suas calcinhas plásticas.
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tree | Mas ia sempre com o seu biberonzinho, com as suas papinhas, ou o tachinho, outra vez, com outras preparadinhas para a minha mãe lhe dar, para as onze horas, e as suas fraldinhas sempre lavadinhas e passadinhas a ferro, tudo na os pés do bercinho, para eu poder levar tudo à cabecinha,
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tree | e lá ia eu com a minha malinha na mão para ir trabalhar para a fábrica.
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tree | Agora a minha pequena era muito boazinha!
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tree | INF2 Não era muito pequeno,
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tree | era um berço bom!
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tree | Agora eu é que era valente!
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tree | Era forte!
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tree | Por isso é que podia bem com o berço.
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tree | E era assim.
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tree | INF2 Embalava,
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tree | embalava.
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tree | Era um berço bom,
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tree | e então era de madeira boa, de madeira de castanho.
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tree | Era pesadíssimo!
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tree | INF2 Ah, ainda há esse berço, parece-me que em casa da minha tia Carolina, não é?
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tree | É.
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tree | INF1 Não.
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tree | INF2 Ainda está lá.
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tree | INF1 Do tio Belisando.
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tree | INF2 Está em casa da tia Carolina.
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tree | Não, já veio.
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tree | INF1 Oh!
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tree | INF2 Criou uma mancheia de famílias o tal berço.
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tree | Era duma madrinha dela.
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tree | Criou cinco ou seis filhos dela.
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tree | E criou os nossos seis filhos – a gente é que éramos irmãos, que era a minha mãe, que isto é uma irmã [vocalização] de minha mãe –,
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tree | e criou os seus seis filhos.
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tree | E minha tia teve oito,
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tree | e eu tive esta,
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tree | e minha irmã teve três
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tree | e ainda emprestaram a umas de fora, assim como a Hermínia,
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tree | e emprestaram para meu irmão Belisando também, que criou dois…
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tree | O que aquele berço tem criado de de famílias!
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tree | Mas a madeira era muito boa!
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tree | E ainda está bom!
|
tree | Ainda está bom.
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tree | Mas penei muito [pausa] para a criar.
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tree | Mas nunca deixei…
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tree | Eu vinha da fábrica [pausa] fazer a minha comida para tornar a ir no outro dia,
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tree | e lavava a minha roupinha,
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tree | mas também às onze da às onze horas da noite, eu acendia o meu ferro com as su- com as minhas brasas,
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tree | e em cima duma caixinha em cima duma caixinha, eu passava a roupa toda da minha filha.
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tree | E ela nunca vestiu peça de roupa que não fosse passada ao ferro!
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tree | Agora já Agora já vai, que umas sobrinhas às vezes dão, ou coisa assim mais passageira, ou uns nylons, ou coisa assim,
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tree | já escapa.
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tree | Mas em pequenina nunca vestiu peça de roupa que não fosse passada a ferro.
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tree | Nunca lhe pus uma fraldinha que fosse!
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tree | Mas ela então também era muito limpinha!
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tree | De sete meses, nunca mais usou fraldas!
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tree | as suas calcinhas de calção- de calçãozinho com os seus elasticozinhos…
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tree | Ela era muito…
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tree | A gente gabava,
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tree | ficava muito engraçada!
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tree | Porque tinha-lhe feito muitos poderes,
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tree | urinava umas,
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tree | ia mesmo ao bacio ou a uma selhinha,
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tree | aquilo com uma camadinha de sabão, lá se punham num malheirinho [pausa] a enxugar,
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tree | nunca lhe faltou calças
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tree | e andava sempre composta
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tree | e nunca mais me deu trabalho a lavar fraldas nem a coar as fraldas.
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tree | Que as fraldas são muito engraçadas,
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tree | mas hão-de ser brancas.
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tree | Sendo encardidas, velhas, não se podem ver.
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tree | Agora é assim.
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tree | Mas então tinha a minha presunção de a criar bem criadinha!
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tree | INF2 Às vezes.
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tree | Agora já nem me esquece bem como era as cantigas,
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tree | mas às vezes dizia também qualquer tolice.
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tree | Nunca foi pequena de pegar no sono no colo.
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tree | muito.
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tree | Nunca pude ir a lugar nenhum, fosse a um baile, ou a um lugar qualquer, porque ela nunca se acertava para pegar no sono no colo.
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tree | Vá de viravoltas no colo
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tree | e punha-se de bruços, com os joelhos em cima das pernas
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tree | e nunca havia maneira de pegar no sono.
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tree | Que a gente quando pega numa criança, a gente deita-a por cima do bracinho fora,
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tree | e ela fecha os olhinhos para pegar no sono.
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tree | Esta nunca pegava no sono.
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tree | Sim senhora.
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tree | INF2 Eu já nem sequer me recorda o que é cantar.
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