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tree | INF É, sim senhora.
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tree | INF Mas eu não trabalho efectiva.
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tree | Trabalho só durante o Verão.
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tree | INF É, sim senhora.
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tree | Trabalhamos em em albacória,
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tree | traba- em bonito, em chicharro – [pausa] estes peixinhos assim –, cavala.
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tree | [pausa] É nos peixinhos que vai aparecendo [pausa] é que nós trabalhamos.
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tree | INF Olhe, minha senhora, ainda a semana passada ainda recebi o meu chequezinho.
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tree | Fui lá quatro bocadinhos,
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tree | já não foi dias por em cheio porque faltou óleo,
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tree | mas ainda recebi novecentos e [vocalização] tal escudos, perto de mil.
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tree | Ainda dá um jeitinho.
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tree | INF É, sim senhora.
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tree | Quando a fábrica abre…
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tree | Ele eles queriam que eu entrasse de efectiva,
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tree | mas eu não pude entrar de efectiva porque eu sou sozinha e também gosto…
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tree | Crio os meus bichinhos,
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tree | crio o meu porco,
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tree | crio as minhas galinhas,
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tree | tenho o meu marido,
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tree | tenho a minha filha,
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tree | é preciso fazer almoço e jantar e ceia
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tree | e agora de Inverno os dias são muito pequeninos.
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tree | As manhãs não dá para fazer o serviço para se poder caminhar;
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tree | e também a gente, à noite, já chegamos escuro,
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tree | não se pode.
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tree | Já basta se ir trabalhando assim nesta época do Verão.
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tree | INF Há-de trabalhar talvez para umas trezentas mulheres.
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tree | INF Assim, durante…
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tree | Não senhora.
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tree | Tem uma uma parte delas, talvez aí para umas vinte cinco, vinte cinco a trinta, efectivas.
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tree | Umas a bater latas, outras a enroupar latas, outras a fazer os caixotes para [vocalização] fazerem o embarque, [vocalização] outras na latoaria a fazer lata de Inverno para se poder trabalhar de Verão.
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tree | Tem uma parte dos homens também que trabalham, porque aqui isso já acaba agora esta época,
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tree | mas engeiram-se daqueles carris, daquelas coisas, a limparem aquelas ferrugens para chegar outra vez para o Verão, aquilo estar tudo oleado, estar tudo em ordem, e poderem mexerem no peixe.
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tree | [vocalização] Quer dizer, dá sempre que fazer para umas certas pessoas todo o ano.
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tree | Nascem para isso.
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tree | INF Como?
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tree | INF Eu sou Eu sou mesmo daqui da das Bandeiras.
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tree | INF Não senhora.
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tree | A senhora também é daqui do Pico?
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tree | INF A senhora é do continente?!
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tree | INF Ah!
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tree | Eu tenho uma cunhada minha que é na [pausa] em Amadora.
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tree | INF Mas ela agora está para a França.
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tree | Tiveram aqui há dois anos.
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tree | Têm três miúdos:
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tree | têm um miúdo
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tree | e teve dois gémeos.
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tree | [pausa] Mas estão bem lá, à conta de Deus.
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tree | [pausa] Eu então agora já estou velha para viajar.
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tree | Risos Já agora paro por aqui.
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tree | INF Tenho uma miúda com dez anos.
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tree | INF Tem dez anos, a miúda.
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tree | INF Eu já tenho quarenta e seis.
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tree | Já estou muito velha!
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tree | INF É uma vida!
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tree | Quarenta e seis, já estou muito ruça.
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tree | O trabalho come a gente.
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tree | É verdade.
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tree | INF Tenho quarenta e seis,
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tree | o meu marido tem cinquenta;
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tree | e tenho uma miudinha com dez.
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tree | Já quando ela nasceu, ia fazer dezassete anos que eu estava casada.
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tree | INF É verdade!
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tree | Já não se fazia conta disso.
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tree | Mas eu , eu aborreço-me com ela, às vezes, porque ela é assim viva – viva ou esperta!
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tree | Ele a gente diz uma coisa
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tree | e compreende aquilo;
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tree | ou manda-se um mandalete,
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tree | faz aquilo tudo.
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tree | Não se há-de dizer uma coisa, se ela não é criança esquecida!
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tree | Se lhe eu disser: "Olha, tu vai ao botequim
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tree | e compra-me isto e isto assim"…
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tree | E sabe muito bem fazer as suas contas ao dinheiro.
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tree | Mas às vezes chateio-me,
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tree | faz assim uma pergunta,
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tree | uma pessoa aborrecida com o trabalho não tem pachorra.
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tree | E eu agora outro dia, fui assim: "Ó Carla, cala-te!
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tree | Tu não és do tempo"!
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tree | E olhe a senhora que eu depois fiquei tanto preocupada!
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tree | à tarde, ao fim do turno da manhã,
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tree | ela diz: "Ó mãe, diga-me<
tree | como é eu não ser do tempo"?
| tree | E eu queria dizer que ela já tinha vindo tarde e que já não tinha pachorra.
| tree | E eu fiquei depois tan- tanto surpreendida em ter respos- respostas indecentes, que eles não têm culpa, não é verdade!
| tree | E é assim.
| tree | Pois eu tenho andado também com um cheirinho de gripe,
| tree | estou meia rouca, constipada.
| tree | Depois foi-me para a garganta.
| tree | | tree | INF Então a senhora veio dar uma volta por aí abaixo, então!
| tree | Ver estes nossos picos, estas pedras negras e estes matinhos verdes.
| tree | | tree | INF Não.
| tree | | tree | INF A gente, às ve-, não acha, aqui isto.
| tree | | tree | INF Há pessoas que vêm daí de fora que acham muito graça neste meiozinho – aquilo e essa coisa –;
| tree | a gente vive aqui entre matos e pedras.
| tree | | tree | INF Agora é verdade que há umas hortinhas aí, que a gente tem sempre as nossas hortaliças,
| tree | calha muito bem!
| tree | | tree | INF Já nesses mundos deles, é preciso eles irem todos os dias ao mercado,
| tree | é preciso haver dinheiro grosso.
| tree | E a gente já aqui, é os nossos nabos,
| tree | é o nosso feijão,
| tree | é batatas doces
| tree | e é batatas brancas,
| tree | é os nossos inhames,
| tree | é tudo.
| tree | [vocalização] Não se pode cramar.
| tree | As hortinhas são fraquinhas
| tree | mas dá disso tudo.
| tree | | tree | INF É isso.
| tree | | tree | INF É o que eles dizem.
| tree | | tree | INF Era uma cunhada.
| tree | | tree | INF Ela não era nascida de lá;
| tree | era do Alentejo.
| tree | | tree | INF Ela trabalhava em va-…
| tree | Ela também trabalhava [vocalização] cá em Lisboa, que ela trabalhava por conta dum alfaiate.
| tree | Trabalhou muito ano por conta dum alfaiate – onde ela estava.
| tree | Eles estiveram cá há dois anos.
| tree | Foram lá para a França,
| tree | e estiveram cá há dois anos.
| tree | Ela prometeu-nos vir dali a cinco anos.
| tree | Vamos a ver.
| tree | Tenho é muitas saudades dos miudinhos, que eram uns miudinhos que ainda não tinham um ano e eram gémeos!
| tree | Mas muito branquinhos, muito gordinhos, muito lourinhos, avermelhadinhos até do cabelo.
| tree | Eram tanto engraçados, filhos da minha alma,
| tree | mas é tanto longe!
| tree | Já no fim Eles estranhavam mas depois…
| tree | Eles estranharam muito
| tree | mas já no fim [pausa] ficavam comigo, aqui de noite, a dormir.
| tree | E a mãe ia, às vezes, dar um passeio, mais o marido,
| tree | iam ver-me isto aí, que ele gostava também de lhe amostrar isto aí e ela já
tree | e ela gostava.
| tree | Só estranhava muito é que não tínhamos luz.
| tree | Mas nós agora temos luz.
| tree | Assim como a minha casa, a gente chega-se à noite,
| tree | eu faço o meu serviço aqui brancamente com a luz.
| tree | Já é então uma animação.
| tree | A gente estava aqui,
| tree | vivíamos muito apertadinhos sem uma luz, sem águas, sem nada…
| tree | Águas, a gente tem nos nossos tanques,
| tree | mas agora a luz, credo, Pai do Céu!
| tree | É claro, é uma animação!
| tree | Foi o melhor que fizeram foi a luz!
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