tree | INF Pois é.
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tree | Pois eu queria contar uma coisa.
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tree | Por exemplo, a gente vamos trabalhar,
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tree | vamos para a charneca.
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tree | Vamos, por exemplo…
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tree | Ia m- Ia companhas de homens – chamava-lhe a gente uma companha [pausa] de homens, com um capataz, e que falava ao pessoal –
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tree | e ia [vocalização] ou cortar mato, por exemplo, para dentro do do povoado de, de dos sobreiros, portanto, aqueles sobreiros, cortar, limpar, fazer limpeza, fazer limpeza à [vocalização], ao [vocalização] ao sobreiral que estava, por exemplo [vocalização] àquilo, e fazer limpeza.
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tree | E é claro, a gente, então usávamos umas roçadoiras para cortar o mato.
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tree | Quando era em Março e Abril – a gente íamos justo por sete meses –, quando era em Março e Abril ia-se queimar.
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tree | Queimar, tinha que se queimar ao contrário.
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tree | Quer dizer, tinha que se queimar [vocalização] ao contrário do vento.
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tree | Tinha que se pôr
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tree | e aquilo ia ardendo,
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tree | o vento estava a bater para aqui,
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tree | mas aquilo ia sempre moendo e ardendo.
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tree | E a gente íamos puxando com os tais ditos [vocalização] forcados, que estava aqui um numa planta dum livro, [pausa] que estava aqui.
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tree | |
tree | INF A puxar.
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tree | É claro, e a gente depois tínhamos que fazer o comer e comer.
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tree | Tínhamos que fazer o comer e comer.
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tree | A gente usava lá uns cochos de cortiça – chama-lhe a gente o cocho –
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tree | era o prato.
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tree | Aquilo arranjava-se uma navalha,
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tree | ali tudo raspadinho fora e tudo,
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tree | e fazia-se o assento,
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tree | estava ali.
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tree | Tínhamos umas umas panelitas de barro que se usavam, que os oleiros usavam dantes, que essas panelitas chamava-lhe a gente uma púcara [pausa] àquilo.
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tree | Que era para para estar a cozer o feijão, ou as couves, ou o arroz, ou tudo o que a gente lá deitava, tudo.
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tree | Tínhamos essas púcaras.
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tree | Tínhamos uns tachos, também de barro, com um rabozito pequeno assim, que a gente punha,
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tree | fazia uma cova no chão assim deste desta coisa, da largura da enxada, funda.
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tree | E [vocalização] nas barreiras era para assentar as vasilhas do comer, aqui assim.
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tree | Para assentar em cima.
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tree | Isto chama-se uma, uma, uma, uma uma fervedeira.
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tree | Esta coisa aqui.
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tree | |
tree | INF E a gente punha ali a coisa em cima.
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tree | E depois, por exemplo, a gente quando era principal da manhã, quando era por exemplo aí às nove horas, antigamente trabalhava-se de sol a sol,
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tree | e quando era p- quando às vezes era p-, por, por por a noite adiante ainda.
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tree | E E é claro, quando eram nove horas íamos almoçar.
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tree | Íamos almoçar,
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tree | a gente íamos fazer o comer e para comer.
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tree | Mas o almoço, tinha que se estudar a maneira sempre para o almoço de aviar mais depressa.
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tree | O que é que a gente foi, f-, que a gente fazia parte das vezes?
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tree | Punha o tacho ao lume com uma pinga de água,
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tree | um dente de alho, ou dois,
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tree | e punha-lhe uma folha de louro
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tree | e depois íamos ao cocho,
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tree | íamos migar o pão.
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tree | Havia esse este pão saloio – que ainda às vezes ainda aparece por aí, que chamam-lhe o pão saloio –,
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tree | havia esse pão, que custava um pataco.
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tree | Sabe quanto é que era um pataco?
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tree | |
tree | INF É dois vinténs.
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tree | Sabe quanto é que era um vintém?
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tree | São quatro moedas de cinco, ou sejam duas de dez.
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tree | Que havia antigamente.
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tree | Um tostão tinha tinha cinco moedas de, de de vintém.
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tree | Quer dizer, um vintém é quatro moedas de cinco.
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tree | É esse dinheiro antigo que havia assim.
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tree | Que eu uma vez fui-me para acolá para a feira, para Abrantes, mais um irmão meu – já lá está também, que era até encanalizador,
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tree | estava em Lisboa –
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tree | e e tinha nascido a minha irmã mais nova.
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tree | E eu depois fui-lhe pedir à minha mãe –
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tree | bom, seja a minha madrasta, mas eu tratava-a por mãe porque eu fiquei sem mãe da idade de dezoito meses, mas eu chamava-lhe mãe – para ir para: "Ah, não.
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tree | Não tenho dinheiro.
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tree | Eu não tenho dinheiro
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tree | e queria ir à feira mas não tenho dinheiro",
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tree | e tal.
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tree | Disse: "Olha, vai aí" – ela estava na cama – "vai aí à tábua da chaminé"…
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tree | Há estas casas antigas que têm uma tábua na chaminé assim por cima.
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tree | "Está aí cinco tostões
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tree | e leva-os".
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tree | E eu levei.
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tree | Fui lá
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tree | vi vi-me duas barracas de circo,
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tree | vi uns bonecos,
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tree | ainda trouxe dinheiro, sabe.
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tree | Com cinco tostões, duas eram cinco moedas de, de de vintém
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tree | e cada moeda uma moeda de vintém tem duas de dez.
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tree | Era duas moedas de dez.
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tree | E E essa moeda de dez são duas de cinco.
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tree | Um vintém era dividido em em quatro partes, tudo.
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tree | [pausa] E de maneira que a gente comprava aquele coiso
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tree | e depois punha lá.
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tree | A gente arranjava o cocho
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tree | e a gente íamos comprar o pão ou…
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tree | Pois o pão, a gente usava a comprar o pão,
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tree | por exemplo, de dois em dois dias é que a gente comprava o pão.
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tree | Aquilo era quase sempre pão caseiro porque era quase cozido cá nos nossos fornos e.
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tree | A gente migava uma quantidade de sopas para dentro de, de, [vocalização] migas para dentro do coiso
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tree | e depois deitava-se-lhe um coisinho de sal, [vocalização] o tempero que era preciso, o sal, o azeite, e tudo,
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tree | a gente aquilo àquilo um capacho.
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tree | |
tree | INF Ah, a comer.
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tree | E depois comíamos.
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tree | Era como a uma açorda!
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tree | Vamos lá por aqui [vocalização].
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tree | Vamos lá já a falar como é coisa:
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tree | é uma uma açorda.
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tree | E depois mexia-se bem.
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tree | Aquilo fervia, aquilo tudo
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tree | e a gente chamava aquilo àquilo um capacho.
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tree | Tínhamos um bocadito de bacalhau para assar.
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tree | Tínhamos, por exemplo, ou um bacalhau, um bocadito de toucinho.
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tree | O bacalhau, às vezes, era só uns coisitos assim pequenos.
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tree | Tudo.
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tree | Ou uma sardinha, ou qualquer coisa assim.
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tree | [vocalização] E outra coisa [pausa] – que esta menina deve saber, [pausa] é lá de cima, deve saber –, outra coisa: a gente lá usava para ter a sardinha, ter o conduto – ter o conduto, chama-lhe a gente o conduto, o bacalhau e essas coisas todas –, um um cortiço, [pausa] tudo.
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tree | Que a gente punha um bocado duma folha de cortiça por exemplo assim desta largura, comprida,
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tree | punha no lume com o carrasco, a parte preta, para baixo para o lume,
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tree | aquilo ardia, aquele carrasco,
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tree | a gente [verbo] aquilo.
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tree | E depois estava muito maciinha –
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tree | a cortiça torna-se muito macia, depois –
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tree | e depois estendiam no chão,
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tree | apagava.
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tree | E depois a gente enrolava aquilo assim
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tree | e fazia um, um cartu- quer dizer, um, um um canudo,
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tree | vamos lá por aqui.
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tree | Um Um canudo, fazia.
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tree | A gente chamava a isso um roleiro, que era para onde a gente punha.
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tree | Que depois arranjava uma rolhas,
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tree | punha uma por baixo, punha outra por cima.
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tree | A rolha tinha uma descavação em volta pelo lado de dentro para enfiar dentro por causa do da bicharada, da coisa.
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tree | |
tree | INF Pois.
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tree | a gente o roleiro à, à, à, àquele àquele cartucho.
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tree | Tínhamos outra coisa que a menina sabe [pausa] esse nome.
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tree | Quer dizer, a gente aqui não sabe.
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tree | Também se fazia isso assim em volta em cortiça.
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tree | o fundo,
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tree | uma asa de cortiça com um coisito de lado,
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tree | era onde se nos levava o comer, quando a gente íamos depois para longe, que a gente levava o comer.
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tree | isso uma tarreta.
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tree | Não é?
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tree | |
tree | INF É onde é que leva o comer.
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tree | Os pastores lá usam muito aquilo.
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tree | |
tree | INF Tudo.
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tree | Agora lembrou-me isso.
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tree | Eu depois eu estive a estudar
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tree | e lembrou-me isso.
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tree | Porque perguntou-me por causa quando levava numa corna as azeitonas, queijos, e tal, tal, tal.
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tree | E a gente levava naquele roleiros.
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tree | |
tree | |
tree | INF Nos coisos é que leva o conduto quando é,
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tree | um roleiro.
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tree | E a tarreta é era o coiso onde ia o comer.
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tree | É como a um tacho.
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tree | |
tree | INF O que é que tinha a [vocalização] asa móvel, como a a uma asa duma cesta.
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tree | De cortiça à mesma, e tudo.
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tree | Mas aquilo é limpinho!
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tree | Nem queira saber!
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tree | |