tree | INF Outra vez: [pausa] chegou uma vez o senhor engenheiro ao pé de mim…
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tree | [vocalização] Naquele ano foi um ano seco.
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tree | Uva passada, passada, passada, mesmo passada, naquele ano.
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tree | Um ano seco.
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tree | [pausa] Como estão ali, podem cá vir outro dia que eu venho atendê-las aqui à mesma.
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tree | Contar aquilo.
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tree | Foi um ano seco.
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tree | Um ano seco
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tree | e, é claro, a uva vinha muito passada,
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tree | e vinha muito doce.
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tree | Vinha muito suco, muito doce.
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tree | E E dava muita graduação.
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tree | Pois dava!
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tree | Dava muito alta até!
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tree | É que ele se fosse a tirar o vinho, com aquela graduação, dava aí catorze ou quinze.
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tree | É claro, era quase álcool que o homem estava a beber.
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tree | só com um copo.
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tree | E tudo.
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tree | deitar –
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tree | os lagares levavam sete dornas cada um –,
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tree | deitar seis ou sete almudes de água por dorna.
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tree | |
tree | INF É claro, era muito!
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tree | É tudo!
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tree | Eu vou para o escrivente que lá estava,
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tree | disse assim: "Eh pá!
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tree | Então ele mandou-me deitar aqui tanta água, neste coiso.
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tree | Eu vou estragar isto tudo então!
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tree | Isto depois nem água-pé sai, pá!
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tree | Isto nem água-pé sai!
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tree | Não dá nada.
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tree | Nem água-pé sai"!
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tree | "Ó tio Guilherme, então como é que a gente há-de fazer"?
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tree | Coitado, ele até está [pausa] inutilizado,
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tree | está ceguinho de todo por causa dos diabetes.
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tree | [vocalização] "Isto não dá nada".
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tree | Digo eu para ele: "Olha cá, se não tiveres aí serviço… – Que eu tinha lá dois homens! – Se me tiveres aí dois serviços serviço para me dares a dois homens, aos homens de tarde, eu vou lá deitar eu a água sozinho", e tudo.
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tree | "Vai"?
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tree | "Pois vou".
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tree | "Eu não deito essa água, pá.
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tree | Então, eu arranjo serviço".
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tree | Ele à tarde chegou lá: "Ó tio Guilherme". –
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tree | Estava tudo combinado. –
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tree | "Você, se me de- pudesse dispensar os homens, para ir ali arranjar um pouco de milho à eira", e tal.
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tree | Disse eu: "Então não posso?!
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tree | Podem para lá ir à vontade".
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tree | E foram,
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tree | levou os homens para lá.
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tree | Eu fui para dentro do lagar com o almude,
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tree | liguei uma borracha que lá tinha à torneira com a água,
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tree | e deitei-me lá dentro.
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tree | Levei para lá os dois almudes.
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tree | E deitei dois almudes e meio de água em cada lagar.
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tree | Ora veja lá a quantidade que eu tinha que deitar de água!
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tree | Só dois almudes e meio de água em cada lagar.
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tree | Deitei aquilo e depois enfim,
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tree | depois borrifei aquilo com a agulheta por cima, com água.
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tree | Então e que fosse três almudes que eu que eu deitasse lá.
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tree | Quando foi ao a pesar o vinho, ele ia pesar o vinho ao Entroncamento,
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tree | foi pesar o vinho,
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tree | um dia chega ao pé de mim,
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tree | : "Ó Guilherme, afinal o senhor engenheiro atinou com aquilo".
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tree | "Então"?
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tree | "É porque o o vinho que saiu está bom.
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tree | Mas ainda podia levar mais água".
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tree | "P- Podia"?
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tree | "Pois podia".
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tree | "Então quanto é que o vinho tinha"?
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tree | Ele ia lá pesar o vinho ao Entroncamento.
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tree | "O vinho tinha aí treze, treze e meio, treze e sete,
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tree | é o que tinha.
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tree | É o que dava aí".
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tree | "Então ainda podia levar mais água"?!
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tree | Eu cá para comigo: olha aqui, tão estão parvos!
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tree | Se eu vou deitar a água toda, arranjava-a bonita!
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tree | Então ele assim já abaixou um bocado,
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tree | se vou a deitar a água toda, ficava água suja [pausa] dentro do lagar.
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tree | Era uma vergonha!
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tree | [pausa] Uma vergonha!
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