tree | INF1 Vinha esta coisa, por exemplo, do, do do milho:
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tree | era semeado –
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tree | o milho era semeado a lanço.
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tree | Andavam os bois [pausa] a lavrar, e tudo,
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tree | e depois, é claro, ia o abegão,
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tree | espalhava o milho a lanço, tudo para fora;
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tree | e depois ia [vocalização] a gente com as grades – que chamam-lhe uma grade, que é uma parte com uns bicos, e tal –
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tree | é gradar e enterrar o milho.
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tree | Quando era aí principal no nateiro, principal no nateiro, quando era aí ao fim de vinte dias, já se podia sachar.
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tree | Mas aquilo depois era dividido em em chama-lhe a gente searas, em terras.
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tree | Ia, por exemplo, o guarda da casa – que estava na casa –
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tree | ia dividir aquilo com umas canas.
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tree | Marcava aqui e além,
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tree | media a passos pela seara…
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tree | INF1 Eu amanhava uma,
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tree | a s- a menina amanhava outra,
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tree | aquela amanhava outra,
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tree | amanhava outra,
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tree | cada qual amanhava a sua
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tree | e arranjava a sua.
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tree | INF1 Está a perceber?
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tree | INF1 Antigamente era assim:
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tree | cada qual tratava da sua.
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tree | [vocalização] O milho, quando era de com a pá acabado de sachar – a gente íamos chamava-lhe a gente sachar –, era de…
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tree | Boa tarde, menina.
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tree | INF2 Boa tarde.
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tree | INF1 Era sachar.
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tree | Claro, íamos dividir…
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tree | Aquilo deve ter,
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tree | deve ficar aí com aí com um palmo ou ou aí quase dois palmos dividido um do outro.
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tree | Claro, o milho estava espalhado aí num monte.
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tree | A gente mesmo com a enxada propriamente cortava
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tree | e já sabia aquilo que havia de deixar.
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tree | INF1 Sim, já sabia aquilo que havia de deixar, cortar.
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tree | Deixava.
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tree | Que vinha depois outra altura quando ele começava a querer desembandeirar, quer dizer, deitar a bandeira e a deitar a [vocalização] espiga o, a aquela barbazita,
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tree | havia ordem,
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tree | a gente já sabia,
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tree | íamos amotar – chama a gente amotar –, amotar mais alguma erva que lá estava por dentro.
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tree | INF1 Íamos por dentro do milho,
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tree | isso era apanhar era apanhar barrigadas de suor lá dentro e e de orvalhadelas de manhã dentro do milho.
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tree | Que o milho [pausa] alto e a gente lá dentro, era era de matar!
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tree | INF1 Quer dizer, com a enxada.
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tree | Mas era…
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tree | E aldrabar.
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tree | E às vezes a passar por aqui e por além, a fazer poeira.
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tree | Era poeira lá por toda a volta,
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tree | ora veja lá.
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tree | INF2 Às vezes, até se perdiam uns dos outros, [pausa] lá dentro do milho.
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tree | INF1 Pois.
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tree | De maneira que o v- o milho era assim criado.
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tree | Depois é claro, vinha o tempo de,
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tree | estava criado,
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tree | estava já com a espiga por baixo, e tudo,
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tree | o guarda vinha dar ordem aos donos das searas: "Vai despontar"!
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tree | Despontar era tirar a bandeira.
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tree | INF1 Está a perceber?
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tree | Tirar aí a bandeira logo rente ali à espiga.
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tree | Tiravam a bandeira,
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tree | deitavam para o chão.
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tree | E depois esse resto, tirar a bandeira, era já com o lavrador.
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tree | Depois ia então o pessoal do do lavrador.
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tree | Por exemplos, os homens e as mulheres, íamos atar o pasto, quando ele estava seco, [pausa] atar o pasto.
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tree | INF1 Íamos atar, tirar para fora do, do do milho,
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tree | e depois vinha os carreiros carregar e tudo, levar para o para a quinta, e depois ser lá empalheirado.
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tree | Quer dizer, empalheirado, metido dentro da das casas, das cabanas, dentro daquelas coisas, porque é para depois se dar ao aos animais para comer, para dar.
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tree | Essa é uma.
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tree | Essa aí acabou.
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tree | Morreu.
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tree | todo.
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tree | E depois o milho, quando estava capaz de apanhar, havia ordem.
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tree | Vinha o guarda dar as ordens: "Fulano, fulano, fulano, tal dia vão apanhar a seara.
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tree | Apanhar a seara".
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tree | A gente cá depois tínhamos [vocalização] juntava-se.
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tree | Por exemplo, eu juntava-me com família de casa daqui dessa, ou daquela e daquela.
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tree | Quer dizer, eu ia a minha mulher ia ajudar a elas
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tree | e elas vinham-nos ajudar a nós.
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tree | Só apareciam quando era preciso.
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tree | Também tinham seara
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tree | e juntavam-se assim.
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tree | E depois ia-se apanhar o milho.
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tree | Íamos de madrugada, de noite, apanhar o milho.
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tree | Ia o homem, ou um rapaz, para acartar aquilo às costas com um cesto para um monte;
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tree | depois vinha vinham os carreiros com os carros, com as caixas,
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tree | ,
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tree | ia para a eira.
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tree | à eira,
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tree | no nosso monte.
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tree | Ele chegava lá,
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tree | perguntava ao abegão que estava na eira: "Qual é a minha seara"?
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tree | "É aquela".
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tree | A apanhar, toca de desencamisar.
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tree | INF1 Desencamisar.
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tree | [pausa] Desencamisar,
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tree | da- deitavam-se para o coiso.
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tree | , é claro, ali um eirado de milho ali assim.
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tree | e tudo.
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tree | Ficava por nossa conta.
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tree | Quando ele estava seco, dizia lá o bandeiro assim: "Ó fulano, tal dia podes vir malhar a seara".
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tree | A gente íamos para lá, é claro,
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tree | tinha quem me ajudasse a mim, que eu também ia ajudar os outros.
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tree | Noites inteiras, andar até às duas horas de noite a malhar, à porrada ao chão!
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tree | Chamava a gente umas moeiras, que era um pau assim comprido com uma coisa na ponta.
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tree | Não sei se já se lembram disso?
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tree | INF2 Ainda lá tenho a minha.
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tree | INF2 Uma moeira, que é uns bocados de correia e tal, arranjado.
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tree | INF1 É claro.
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tree | Um pau assim na na ponta pendurado.
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tree | Chama Chamava-lhe a gente um pírtigo.
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tree | E é E a hástea.
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tree | Era a hástea e o pírtigo.
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tree | De maneira que toca de porrada.
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tree | Por exemplo, andávamos quatro homens nesta banda, outros quatro daquele lado.
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tree | Andava as nossas mulheres, ou alguém que a gente tinha que ajudasse, com uns candeeiros – que nem havia luz, nem nada –, com uns candeeiros de lado, para alumiar, para a gente ver onde é que andava a bater, à porrada ao chão.
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tree | Claro.
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tree | a primeira corrida,
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tree | depois ia-se buscar as ferramentas da eira, os ancinhos;
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tree | aquilo para fora,
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tree | o milho de baixo para um lado para um monte;
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tree | depois ia-se remalhar aquilo outra vez.
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tree | Porque ainda ficava muita espiga partida ao meio, com milho.
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tree | a malhar outra vez, a dar porrada até ficar.
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tree | E depois tirava-se outra vez para fora.
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tree | E depois estava a gente – chamava-lhe a gente os casuis, que é aquele casul que está dentro da, da, da do milho.
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tree | INF1 Que está muito certo.
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tree | aquilo para fora.
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tree | para um cesto, lá para um monte, para para e depois [pausa] fazer estrume, qualquer coisa.
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tree | [pausa] O milho espalhava-se [pausa] tudo,
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tree | tarde ia-se juntar
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tree | e íamos limpá-lo com umas pás.
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tree | Toca de limparem para o vento, tudo.
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tree | E a mulher, a mulher ou um outro colega assim com uma com uma vassoura, chamava-lhe a gente a conhar, a apanhar aquele casulito por cima, para o lado, para depois passar com o crivo, tudo.
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tree | E depois vinha o abegão,
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tree | media
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tree | e a gente vinha.
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tree | Mas sabe, eram nove alqueires para o patrão e um só para a gente, no campo, de milho da eira.
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tree | INF1 E o que a gente trabalhava!
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tree | E o que se fazia!
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tree | Está a ver a menina [vocalização] o princípio desta desta vida, o que o que a gente fazia, tudo.
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tree | INF1 Pois.
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tree | [vocalização] Hoje já não sucede isso.
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tree | INF1 Hoje já não é.
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tree | Já vão debulhar no campo,
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tree | já vai tudo.
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tree | Já não Já não aproveitam o pasto,
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tree | já não aproveitam nada.
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tree | É É conforme está na bandeira e tudo,
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tree | cai aquela moinha toda para o chão, e tudo.
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tree | E antigamente era feito assim.
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tree | Mas hoje, se fosse assim, não havia gente para isso.
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