tree | INF1 O trabalho do rechego é é completamente o contrário do da moreia.
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tree | INF2 Pois.
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tree | INF1 A moreia tinha que ser feita mesmo mesmo de alto a baixo para não ficar torto nem para um lado, nem para o outro – mesmo de alto a baixo mesmo.
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tree | Que era para [pausa] o, o a terra segurar dum lado e doutro.
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tree | Se ficasse um bocadinho à meia chapada, o de lá de baixo não segurava de maneira nenhuma.
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tree | E o rechego era para para se lavrar com o gado.
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tree | para Para se enregar, para se lavrar com o gado,
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tree | calhava era à meia chapada.
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tree | Depois já era de atravessado.
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tree | INF1 Pois.
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tree | E então tudo tem tudo tem maneiras, não é?
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tree | INF3 Ainda Ainda me lembro de uma senhora que me deu doze tostões.
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tree | Mil e duzentos, não é?
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tree | Eu andava cuidando nuns porcos,
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tree | e depois ela tinha muito mato na propriedade.
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tree | [pausa] E eu [pausa] aborrecia-me estar assim sozinho – não é? –,
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tree | os porcos andavam entretidos a foçar, não é?…
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tree | Como diz cá um alentejano, eu já acabei de dizer às senhoras:
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tree | andavam a foçar, não é?
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tree | Eu para ali entretido, vejo aqueles rosmaninhos, tudo por aí afora, por aí afora,
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tree | digo eu assim: "Ah, fazer aqui uns recheguinhos"!
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tree | Começo lá a apanhar mato e a fazer uns recheguinhos cá [vocalização] assim cá à minha maneira – não é? –, a ver se aprendia como via os homens fazer, os homens mais antigos, não é?
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tree | A mulher passa por lá,
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tree | vê uns recheguinhos que eu tinha lá feito…
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tree | INF1 Deu-lhe graça?
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tree | INF3 [vocalização] Achou aquilo bem feitinho.
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tree | E depois para ali com um bocado de pau ou não sei quê, ainda lhe fiz assim uma espécie como quem tinha lavrado aquilo tudo.
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tree | A terra era era uma terra boa de mover,
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tree | era de era de ombria,
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tree | estava quase sempre fresca.
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tree | A mulher passa por lá,
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tree | vê seis ou sete recheguinhos que eu tinha lá feito,
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tree | diz ela assim a um vizinho: "Olha, aqui o meu parente fez lá um trabalhinho [pausa] que eu tenho que lhe dar qualquer milhadura".
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tree | Mas eu nem tão pouco me vinha à ideia que tinha sido aquele trabalho que eu tinha feito.
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tree | Alguma vez eu pensei lá de a de a senhora ir lá deparar com aquilo? – que era a dona da propriedade.
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tree | Digo eu: [pausa] "Ora essa!
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tree | Então o que é que foi?
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tree | Alguma coisa mal feita, não"?
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tree | "Não senhor. Fez lá uns recheguinhos tão bem feitinhos, tão bem feitinhos que só visto"!
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tree | INF1 Era para quem não sabia trabalhar.
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tree | INF3 Um dia chegou ao pé de mim: "Olha lá, pe– pega lá uma milhadura que que a prima te dá"!
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tree | "Então do quê"?
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tree | "Eh! Pensei em dar-te isto"…
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tree | "Então mas do quê"?
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tree | Eu a pensar…
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tree | [pausa] Até que ela me disse: "Olha, daquela desmoitazinha que tu lá fizeste, daqueles recheguinhos".
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tree | Já viu?
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tree | Há coisas assim.
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tree | Eu vi os homens fazer aquilo,
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tree | INF3 e depois tinha cegueira naquele trabalho.
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tree | INF3 Porque a gente quando nascendo para trabalhar em qualquer coisa, a gente tem cegueira no que vê os outros fazerem.
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tree | Não é preciso ser ensinado.
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tree | Começa a ver,
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tree | vamos lá a ver se aquilo…
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tree | E eu fiz lá aquilo
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tree | e a mulher caiu-lhe aquilo lá em graça.
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tree | INF3 Pois.
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tree | E deu-me então mil e duzentos.
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tree | Ora, [pausa] dez tostanitos mais dois tostanitos – como dizia o outro – naquele tempo, eh, nem queira saber!
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tree | INF3 Hi!
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tree | Sei lá o tempo que eu poupei aquele dinheirinho!
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tree | Se me viessem agora dar [vocalização] mil e duzentos, o que é que eu dizia?
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tree | [pausa] Isto é para quê, mil e duzentos?
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tree | Não é verdade?
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tree | INF1 Nem sequer Nem sequer se dá aí a uma criança.
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tree | INF3 No resto de um conto de réis não, não é conto de réis sem ser sem ter os mil e duzentos, não é?
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tree | INF3 Sim senhor.
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tree | Pois é assim.
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tree | A gente, a maior parte das coisas, pois [vocalização] não é às vezes porque a gente não saiba [vocalização] o nome das coisas, ou não saiba como é que elas começam,
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tree | vezes não espera [pausa] é de aparecer, por exemplos, como as senhoras apareceram agora.
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tree | INF3 E a gente, que a pessoa para ser entrevistada – vamos assim –, [pausa] tem que ter e andar instruída e pensar e amanhã perguntam-me isto ou perguntam-me aquilo.
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tree | Que a pessoa quando é apanhada de surpresa, não é por não saber, não é?…
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tree | INF3 Não é por não saber…
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tree | INF1 É porque não se lembra.
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tree | INF3 É que às vezes não se lembra, não é?
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tree | INF3 E depois diz: "Ora, a senhora perguntou-me isto e eu sabia isto e não disse".
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tree | INF3 Não, está certo.
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tree | INF3 Está certo.
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tree | Mas é assim mesmo.
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tree | INF3 Pois [vocalização].
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tree | E há aquela pessoa que pensa assim: "Não, eu faço parte disto.
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tree | Amanhã ou noutro dia, espera aí.
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tree | Ou com este ou aquele, eu não sei o que é que fulano traz na algibeira, ou fulana traz na algibeira.
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tree | E eu trago isto a eito".
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tree | INF3 Esse traz as coisas de cor.
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tree | É como a cantiga, não é?
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tree | INF3 Trazer a a cantiga de cor para não se, para não quando disser não se enganar nos pontos, não é?
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