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tree | INF Não.
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tree | Ainda Ele lá no no Covo ainda…
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tree | INF Não.
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tree | Já acabou.
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tree | Ainda o ano passado lá havia uma, lá um palheiro lá donde digo.
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tree | O telhado que tem agora é telha.
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tree | INF Era.
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tree | Tem outra casita.
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tree | Olhe, acolá era a cozinha
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tree | e aqui era outra, outra outra casita que era melhor, mais melhorzita d- do que o coiso.
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tree | E o outro morador já é o inquilino dacolá daquele lado.
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tree | INF Era.
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tree | Era dois.
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tree | Era dois só.
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tree | Dois.
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tree | Eram dois mora-.
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tree | INF Ah, isso já vai [pausa] lá perto de duzentos anos.
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tree | Duzentos anos, não,
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tree | porque o outro o homem morreu
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tree | já se recusava.
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tree | Ora o homem já morreu quando foi o ciclone um ciclone muito grande…
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tree | INF Que ele nós fo-…
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tree | Olhe que eu fui a mais um um primo meu buscar o caixão a Gatão, para o homem ir para a sepultura.
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tree | E olhe que a gente vinha um atrás outro adiante, com o caixão ao ombro.
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tree | E quando tal, caiu um pinheiro,
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tree | [vocalização] que o vento jogava o pinheiro abaixo.
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tree | INF E a gente, depois, vinhamos aqui acima a chegar à Felgueira
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tree | e depois então…
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tree | Foi no tempo do minério!
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tree | As senhoras recordam-se do minério?
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tree | INF Do volfrâmio.
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tree | Pois, pois.
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tree | isso?
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tree | Foi…
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tree | INF Pois.
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tree | Foi nessa altura.
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tree | INF Sei lá.
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tree | Eu sei lá.
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tree | INF Não, não.
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tree | Não.
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tree | INF Para aí quarenta.
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tree | Ou quarenta ou quarenta e tal;
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tree | devia sê-lo em quarenta;
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tree | ou em quarenta ou em quarenta e tal.
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tree | INF E depois iam muito homens, muitos que andavam no minério, por aí abaixo –
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tree | a chover! –
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tree | e eles eram para mim e para um mais um primo meu que vínhamos com o caixão –
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tree | mas nem à mão o podíamos trazer,
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tree | ao ombro, um atrás, outro adiante –,
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tree | diz assim: "Ó homem, vocês vão vão-se botar a matar por quem já morreu"?
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tree | Porque aquilo era:
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tree | volta e meia caía um pinheiro, da banda diante da gente, outros a b-, às vezes, da banda de trás,
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tree | e a gente…
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tree | Meu amigo, o homem tinha que ir para a cova…
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tree | Lá viemos.
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tree | Fomos só quatro pessoas ao, quatro homens a levá-lo à co-, à [vocalização] , o homem, à cova.
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tree | [pausa] Ao ombro!
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tree | INF Ao ombro!
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tree | Olhe como eu sou a mais esta senhora
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tree | e [vocalização] botamos um pau, e o caixão entre nós, e outro aí atrás
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tree | e levamos assim acolá, ali abaixo à Lomba, à cova.
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tree | Que ele dizia que ele nos…
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tree | Dizia aquilo.
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tree | Ele uma vez a ler, ali atrás com as vacas,
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tree | eu era rapazote pequeno,
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tree | e ele disse ao acaso – que diziam lá no livro – que havia de haver uma guerra – não! que havia [vocalização] –, que os homens que haviam de voar mais alto que os passaritos.
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tree | O livro lá, ele não se constavam aviões –
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tree | nunca ninguém fala em aviões.
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tree | E o livro dizia que o [vocalização] os homens que haviam de voar mais alto que os passaritos.
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tree | E quando nós visse estas t- estas serras todas cortadas, de estradas e tudo do homem, que o mundo que era um paraíso – e já está! –, que ele que o mundo que durava pouco.
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tree | INF Que a terra que havia de ser pólvora, [pausa] a água que havia de ser gás [pausa] e a, e o e as pedras ser enxofre.
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tree | INF Olhe que eu, eu dava hoje mais de vinte contos por aquele livro, [pausa] se eu o tivesse.
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tree | Mas depois ele morreu
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tree | e ficou aí um, um um sobrinho dele [vocalização] a estragar tudo…
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tree | Mas é um livro assim [pausa] de coiro sempre e tal sem metal.
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tree | Isso é que era um livro de dizer coisas!
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tree | E diz que havia de haver uma guerra na Europa
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tree | e já ve- e já houve.
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tree | INF E diz que há-de haver uma guerra – mas essa ainda não veio! – que há-de ser vencida por os homens de sessenta anos no Campo de Ourique em Lisboa.
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tree | INF Olhe que o homem leu isso lá diante de mim
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tree | e eu nunca mais me esq- passou de ideia.
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tree | Eu já era um rapazote aí com os meus onze dos doze anos ou treze.
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tree | E ele disse que havia de haver uma guerra [vocalização] em Portugal, que há-de ser vencida pelos homens de sessenta anos em [vocalização] no Campo de Ourique em Lisboa,
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tree | que já não havia de haver era mocidade nenhuma.
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tree | INF Que os homens de sessenta anos que é que haviam de fazer uma guerra!
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tree | E que as mulheres, nestas aldeias, quando vissem um homem – quer dizer, cá como os aciprestes, quer dizer, como os padres – e quando vissem um homem que haviam de dizer assim: "Louvado seja o Senhor,
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tree | lá vem um homem"!
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tree | INF Olhe que aquilo no livro!
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tree | E ele eu, o homem leu aquilo diante de mim!
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tree | INF Diante de mim e um tio meu, dois tios meus.
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tree | E eu era miudito
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tree | fiquei com aquilo na ideia,
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tree | depois bem queria bem andei até às voltas dos sobrinhos dele a ver se lhe caçava esse livro.
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tree | De coiro,
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tree | hoje, não o dava antes que me dessem cinquenta contos.
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tree | INF E eu naquela altura, eu dava o que bem fosse
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tree | e os sacanas estragaram-no e [vocalização] .
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tree | Mas aquele era um livro!
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tree | Aquilo era um homem a saber ler e a saber a saber as coisas, sabe?
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tree | INF E a gente, olhe, e que ainda é outra coisa que ele dizia: que para a fim do mundo que a gente que não havia de conhecer o Verão do Inverno senão pelas folhas.
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tree | Nós estamos a chegar aí.
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