tree | INF Depois as pessoas viviam [vocalização]…
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tree | A matança do porco não era uma festa;
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tree | era uma maneira de governarem a sua casa e de fazerem ele a vida.
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tree | [pausa] Deixavam para si aquilo que podiam
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tree | e vendiam aquilo que precisavam.
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tree | Muitas vezes não vendiam aquilo que não precisavam.
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tree | Vendiam o que precisavam,
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tree | mas precisavam do dinheiro
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tree | e tinham que fazê-lo de alguma maneira.
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tree | Como se pagavam as contribuições no mês de Janeiro, no mês de Dezembro matavam-se os porcos pois.
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tree | Eu então não é dos meus dias,
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tree | mas eu lembro-me de o meu pai contar que havia pessoas que iam com as suas bandinhas de porco, às costas, daqui para a cidade vendê-las.
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tree | INF As bandas do porco é uma banda de porco!
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tree | INF Uma metade do porco.
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tree | E ficavam em casa com a cabeça, com a espinha, com a fressura e com as morcelas,
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tree | e o resto era vendido.
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tree | [pausa] Mas então já há setenta, oitenta anos para trás.
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tree | Agora, nos meus dias, não.
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tree | meus dias, as pessoas vendiam um bocadinho
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tree | mas não se despossuíam dos seus porcos todos.
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tree | [pausa] Depois, foi mudando até o ponto que hoje já é uma festa um dia de matança.
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tree | Mas nos, na no meu tempo de infância, uma matança do porco era um dia de trabalho.
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tree | A pessoa matava o porco para o seu próprio [vocalização] uso
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tree | e [vocalização] e era um dia de trabalho igual.
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tree | !
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tree | Mas não era aquele tempo tipo de ajudar, festa!
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tree | Não havia comidas diferentes,
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tree | não havia nada nada diferente de por ser a matança do porco.
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tree | INF A caçoila era feita com a fressura do porco, com o fígado, bofes, coração…
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tree | INF Chama-se fressura àquilo tudo:
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tree | é o coração,
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tree | é o fígado e o e o bofe.
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tree | Até que na minha casa nunca se usava [vocalização] caçoila.
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tree | Mas havia pessoas que faziam e que até gostavam.
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tree | INF Espécie de guisado.
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tree | Havia outras que faziam molho de espinhela, que era a espinha do porco partida em bocadinhos,
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tree | e fazi- punham-lhe cebola, alho,
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tree | era uma espécie duma carne guisada.
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tree | Também era saboroso!
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tree | É claro era a espinha fresca…
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tree | Também isso, muitas pessoas usavam isso…
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tree | Então já nesta altura que se fazia o molho da espinha, já era a matança diferente.
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tree | Já não era a matança só com a família da casa.
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tree | Era, por exemplo, os irmãos – já se então começou a juntar os irmãos – a fazer a matança.
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tree | Até que [pausa] começou-se a fazer mais festa de matança foi com os namorados.
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tree | [pausa] O meu caso:
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tree | eu namorei nas vésperas das matanças.
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tree | O meu marido pediu-me em casamento nas vésperas da matança para eu já ir à sua matança.
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tree | E foi por aí que começou a [vocalização] a fazer-se mais festa de matança com familiares.
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tree | "Ele está namorada, olha,
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tree | já foi à matança do porco"!
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tree | E depois por aí é que se foi começando a ajuntar famílias e a fazer então as su- as matanças, que já hoje então são muito diferentes: com gente ba- com pessoas bastantes,
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tree | já se fazem bolos doces,
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tree | já se faz arroz-doce,
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tree | já se faz uma ementa diferente.
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tree | Até que já pouco se usa do porco no dia da matança.
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tree | carne assada, por exemplo;
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tree | galinha; tudo coisas que não se faziam
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tree | porque [vocalização] o dia do porco era um dia vulgar.
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tree | INF Não era um dia de festa,
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tree | nem era um dia diferente dos outros.
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tree | Era um dia diferente dos outros só porque o trabalho era diferente.
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tree | Mas não se fazia festa.
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tree | INF Ao fumo.
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tree | INF A ros- A linguiça era cheia ao fim de quatro dias depois de se fazer a vinha-de-alhos,
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tree | e depois era pendurada nuns paus.
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tree | Agora temos as chaminés
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tree | mas eu ainda me lembro de as linguiças serem defumadas nas cozinhas,
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tree | que não havia chaminés.
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tree | INF Eles punham umas vergas penduradas nos tirantes da casa,
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tree | punham um pau atravessado – o que se faz nas chaminés! –
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tree | INF e a linguiça era posta pendurada naqueles paus, enrolada nuns rolos, comprida,
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tree | e [vocalização] e ficava ali um, dois dois dias, dois, três dias o máximo, a curar.
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tree | lume…
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tree | O lume bom para rosar a linguiça era o lume de sabugos, que é o sabugo do milho que se do milho que se desbulha.
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tree | [vocalização] Punha-se umas achinhas e com aqueles os sabugos por cima
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tree | e ela ficava rosadinha.
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tree | E depois de rosada, os que era para vender, iam-na vender,
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tree | e os que não, fritavam-na<
tree | e punham-na em em banha, que ainda é o que se usa hoje.
| tree | A gente, eu por mim, eu e a minha família usamos.
| tree | Há quem põe nas arcas;
| tree | eu, os condutos de porco, não uso nada na arca, só se um bocadinho de carne para, para para assar e para bife.
| tree | De resto, ainda salgo a [vocalização] a carne de porco na salgadeira
| tree | e fri- e uso os meus condutos todos é nas na banha, enterrado na banha.
| tree | O que se usava naquele tempo era barro,
| tree | era as caboucas de barro,
| tree | era as salgadeiras de barro;
| tree | agora usa-se em plásticos, que é muito mais higiénico e muito mais…
| tree | Porque havia [vocalização] barro que lhe punha gosto.
| tree | Punha [vocalização] Íamos [vocalização] buscar
| tree | e criava como que um ranço, um gosto a ranço.
| tree | E o plástico então é muito mais higiénico e muito melhor.
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