tree | INF Se for aqui aqui a [vocalização] cem metros, ou coisa, aqui onde é a estrada nova que vai para Lisboa, e aqui se pusesse um restaurante…
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tree | Ali em Canhestos estão dois – está um dum lado, outro doutro e tal, tal –
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tree | e se for lá têm sempre gente e essa coisa toda.
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tree | Se aqui puser o [vocalização] se pusesse um restaurante ou uma bomba de gasolina…
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tree | Aqui só há gasolina em Aljustrel ou depois em Grândola.
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tree | Não há aí mais nada.
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tree | Mas se pusesse aqui perto um restaurante, ali com uma bomba de gasolina, e essa coisa toda e tal, tinha ali fregueses.
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tree | INF À rés da estrada nova!
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tree | E depois esses fregueses são sempre assim uns fregueses bons.
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tree | Porque você chegou a uma um restaurante desses,
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tree | eu não a conheço de lado nenhum,
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tree | tanto se me dá levar-lhe cento e cinquenta mil réis como duzentos;
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tree | e você achou caro,
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tree | saiu da porta e disse assim: "Filho dum cabrão, cravou-me aqui com mais cinquenta paus que a conta".
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tree | E eu fiquei cá os duzentos paus
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tree | e digo assim: "Aquela magana!
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tree | Vai passear os parentes,
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tree | não te conheço de lado nenhum"!…
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tree | Você vai-me arrematando que eu levei-lhe muito
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tree | e eu fico-a arrematando que devia-lhe ainda ter mamado mais cinquenta, e não coiso.
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tree | E depois quando você desanda de lá, que vai para lá para os lados de Lisboa, vem outro para o lado do Algarve,
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tree | papa esse que vai para o lado do Algarve.
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tree | E são sempre caras desconhecidas.
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tree | E aqui a gente, qual é depois o freguês que se não tem alguma…
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tree | Vem ali o vizinho ou outro
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tree | não se lhe vai cravar um [vocalização] ,
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tree | que depois ainda vai acabar com algum que tem.
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tree | Ainda vai acabar com algum freguês
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tree | e é sempre miséria, ámen.
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tree | É sempre uma miséria.
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tree | Eu fui multado aqui uma vez.
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tree | Veio aqui uns, dos fiscais,
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tree | aqui em dois contos.
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tree | Paguei dois contos.
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tree | Estava vendendo o vinho,
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tree | [pausa] o vinho a vinte e nove escudos e trinta.
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tree | Tinha um de trinta, outro de vinte e nove.
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tree | Estava vendendo a trinta e cinco mil réis, o litro – uma diferença de cinco escudos em litro.
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tree | E eles queriam que a gente só ganhasse três mil réis,
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tree | em dois contos.
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tree | [pausa] Foram além àquele meu vizinho,
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tree | o mesmo, outros dois.
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tree | Foram a outro que estava aqui deste lado,
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tree | o mesmo, outros dois contos.
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tree | Foram ali a outro que estava daquele lado, outros dois contos.
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tree | Só a gente os quatro aqui…
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tree | Os outros não coiso porque eles depois fecharam as portas.
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tree | INF Assim que deram notícia fecharam as portas.
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tree | Mas a gente os quatro aqui fomos caçados.
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tree | oito contos por estar vendendo o vinho com três mil réis.
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tree | Escute Veja a [vocalização] diferença que há.
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tree | A mesma garrafa de vinho que a gente vende numa taberna, que não pode vender por mais de quarenta escudos, a mesma garrafa de vinho, se estiver ali daquele lado um café e for pôr essa garrafa de vinho e você vier comprar a minha casa, não a pode comprar e eu não lha posso vender por mais de quarenta escudos.
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tree | Está tabelado o preço.
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tree | Mas se você for a um café defronte e tenha lá a mesma garrafa, iguais, compradas ao mesmo gajo e essa coisa toda, você já pode vender uma garrafa dessas por setenta mil réis.
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tree | restaurante, numa casa de, de do café, pode vender uma garrafa dessas por setenta escudos;
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tree | a gente numa taberna não pode vender mais por quarenta.
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tree | [pausa] Queriam que a gente estivesse ganhando três escudos num litro de vinho!
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tree | Ora diga-me lá quantos litros de vinho é que uma pessoa tem de vender durante o dia para tirar um ordenado… Ordenados como há hoje!
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tree | Qualquer desgraçado ganha quinhentos mil réis ou seiscentos.
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tree | Qual é o ordenado que uma pessoa tinha que tirar numa taberna?!
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tree | Quantos litros de vinho tinha que vender?!
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tree | Porque o vinho que se vende mais aqui no coiso, [vocalização] não é não é aos meios litros nem coiso, é aos copos.
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tree | É por isso que um homem enceta um garrafão de vinho, de cinco litros, de manhã para vender aos copinhos, copinho a um, copinho a outro
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tree | e, parte das vezes, vem à noite,
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tree | ainda tem lá o garrafão com metade do vinho.
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tree | O que é que isso dá?
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tree | Dá [vocalização] dá Hoje dá ele nos restaurantes, onde, por exemplo, põem-lhe além no meio litro de vinho que você bebeu logo um litro de vinho.
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tree | Você chegou com duas ou três pessoas,
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tree | eles papam-lhe ali duzentos mil réis a cada pessoa
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tree | e põem-lhe ali mais xis para isto, mais xis para aquilo,
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tree | e quatro pessoas, ali num restaurante, papam-lhe ali uma nota de conto, ou um conto e quinhentos, ou uma coisa.
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tree | E a pessoa hoje está já…
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tree | Há dinheiro,
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tree | pagou
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tree | e foi-se embora.
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tree | Não, as tabernas aqui não dão nada,
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tree | isso não dá nada.
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tree | Não é negócio que dure.
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tree | [pausa] E eu [vocalização] tentei em acabar com tentei em acabar com isso.
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tree | Não era só o [vocalização] até o dar, nem isso, nem aquilo.
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tree | Eu, agora ultimamente, não não me fazia diferença, não coisa.
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tree | É mesmo que vi que não [pausa] que não tinha necessidade nenhuma de estar já a aturar chatices.
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tree | Pois eu não tenho ninguém.
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tree | Tenho três filhos;
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tree | aquele tem além a vida dele;
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tree | os outros têm a vida deles também;
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tree | e eu estou sozinho mais a mulher.
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tree | Tenho alguma vontade de estar agora a aturar moengas?!
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tree | INF Levava uma vida inteira, com sessenta e quatro anos.
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tree | Agora mais meia dúzia de anos que uma pessoa cá está, está agora sujeita a aturar agora chatices.
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tree | Chatices!
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tree | [vocalização] Eu negociava em cereais,
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tree | tinha uma fragonete.
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tree | Negociava em cereais,
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tree | negociava em gado,
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tree | tive aqui um talho…
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tree | Eu acabei com isso tudo.
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tree | Larguei isso tudo da mão.
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tree | Até hoje mesmo quando aparece um a vender-me qualquer coisa, digo: "Não, não. Olha, vai para aí ao coiso, que eu não te compro nada".
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tree | "Porquê"?
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tree | "Porque eu não quero"!
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tree | INF Quero eu agora cá chatices!
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tree | Pois.
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