tree | INF Isto está aqui uma coisa…
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tree | Há uma coisa…
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tree | Isto é engraçado.
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tree | [vocalização] Noutro tempo, havia muito divertimento – no tempo da miséria, quando havia miséria –
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tree | e o pessoal entretinha-se entretinha-se.
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tree | Aqueles que tinham muito, tinham automóveis,
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tree | tinham isto,
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tree | tinham aquilo e tal, tal, tal.
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tree | Aquele pequeno nunca pensou – com licença – em possuir um automóvel, em possuir uma biciclete a motor, e coisa.
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tree | E então tinha que ir para coisas lá que lhe pertenciam.
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tree | E então qual eram as coisas que pertenciam?
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tree | [vocalização] "Ah, eu vou para uma taberna, cantar uma modinha".
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tree | [vocalização] Lá mandava assar um bocadinho de linguiça e comê-la [vocalização].
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tree | Não tinha aquela coisa e tal, tal.
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tree | Hoje não existe já isso.
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tree | Já não existe isso.
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tree | Uma pessoa numa terra destas…
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tree | Por exemplo, aí à rés duma estrada, aparece um restaurante.
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tree | Então aparece um freguês de Lisboa,
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tree | depois ao fim de um bocado aparece um do Algarve,
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tree | passou no carro, e tal, tal, tal, tal
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tree | e a taberna ali [vocalização] faz uma comida,
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tree | faz uma coisa, e tal.
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tree | E essa taberna tem uma saída.
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tree | Aqui, nestes sítios, já não acontece isto.
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tree | E não acontece isto porquê?
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tree | Porque é já rara a pessoa, mesmo numa terra destas, que não possua já um automóvel.
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tree | E essa gente hoje que possui já automóvel, já querem estar numa classe,
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tree | já não querem saber da taberna.
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tree | [pausa] Vão mais depressa, por exemplo, passear aqui ou além,
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tree | e vão comer depois lá a um restaurante desses.
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tree | E vem o domingo, que eram os dias em que a gente fazia qualquer coisa numa taberna destas, um domingo que se aproveitava,
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tree | pois é nos domingos que é os dias mais ruins numa taberna, numa aldeia.
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tree | Porque aos domingos, toda a gente tem automóvel
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tree | e aquele que não tem vem dalém o vizinho…
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tree | Mas os automóveis são já muitos
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tree | e os vizinhos são também muitos,
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tree | e quando a gente dá-se notícia, ao domingo é um silêncio!…
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tree | Se a gente estiver deitados até um bocadinho mais tarde, não se ouve rumor de nada.
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tree | Parece a gente que está no monte.
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tree | domingos!
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tree | sábados e aos domingos parece a gente que está num monte!
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tree | Não se ouve ninguém!
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tree | A gente abre uma porta para vender um copo de vinho, essa coisa,
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tree | pois marchou-se tudo:
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tree | um foi para a praia,
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tree | outro foi para uma ribeira aí comer um petisco,
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tree | outro foi para outro lado.
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tree | Têm automóveis!
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tree | Têm os carrinhos para a coisa e tal, tal.
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tree | E em vindo outro certo tempo, têm os carrinhos, aos domingos
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tree | vão à caça, coisa e tal, tal.
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tree | E os domingos numa terra destas – sábados e domingos – são sempre mais ruins.
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tree | E depois aos dias de semana vão trabalhar
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tree | e pronto, aparecem…
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tree | É sempre uma moenga.
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tree | E essas casas que estão aí perto da estrada nova são os uns restaurantes que, em tendo uma casa bem arranjada, defendem-se bem.
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tree | .
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tree | E um tipo aqui numa terra destas não se defende com uma taberna.
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tree | Não se defende com uma taberna porque aos domingos – que é o dia em que a gente fazia, no outro tempo, dinheiro –, ninguém tinha automóvel,
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tree | vinham para uma taberna,
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tree | cantavam,
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tree | e [vocalização] pulavam, e [vocalização] isto, e aquilo, e tal
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tree | e estava tudo muito bem.
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tree | Agora não!
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tree | Agora têm automóvel,
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tree | querem lá saber agora de estar aqui em Montes Velhos, em vindo o domingo!
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tree | em Montes Velhos
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tree | e vão-se embora.
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tree | tudo embora.
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tree | Ninguém quer estar aqui.
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